sexta-feira, 6 de setembro de 2019

Aula 14: Desvendando o Apocalipse - "As Duas Testemunhas"


“Contudo, recebereis poder quando o Espírito Santo descer sobre vós, e sereis minhas testemunhas, tanto em Jerusalém, como em toda a Judéia e Samaria, e até os confins da Terra!” (Atos 1:8 – KJA)



1 – Prefácio



Neste texto iremos expor as principais interpretações sobre a identidade das duas testemunhas. Não iremos considerar aqui as interpretações defendidas por algumas seitas, pois isso desviaria nosso foco.



2 – Interpretações Baseadas em Linhas Teológicas

·         As Duas Testemunhas são Enoque e Elias


Dentre todas as interpretações sobre quem são as duas testemunhas do Apocalipse, provavelmente esta seja a mais popular entre os cristãos. O principal ponto de defesa para que as duas testemunhas sejam identificadas como sendo o profeta Elias e Enoque, diz respeito ao fato de que estes dois homens foram os únicos a estarem com Deus sem passar pela morte (Hb 9:27-28)

Então quem defende que eles serão as duas testemunhas, afirma que estes dois homens foram guardados para essa missão final. Será no ministério das duas testemunhas do apocalipse que eles finalmente experimentarão a morte.

·         As Duas Testemunhas são Moisés e Elias


Esta interpretação é bem semelhante à anterior. A diferença é que ao invés de Enoque, a outra testemunha é Moisés.

A principal defesa para esta linha de interpretação fica por conta de que as duas testemunhas possuem características que lembram os dias desses homens na terra. As duas testemunhas poderão “ferir a terra com toda sorte de pragas” e “converter as águas em sangue”, como no ministério Moisés. Elas também terão “poder para fechar o céu, para que não chova”, assim como foi com Elias (Ap 11:6).

Outro ponto utilizado nesta interpretação é o fato de que Elias e Moisés foram os personagens presentes na transfiguração de Jesus (Mt 17:3). Ainda sobre Elias, tanto essa interpretação quanto a anterior, geralmente utiliza uma profecia de Malaquias para defender um possível retorno do profeta a terra (Malaquias 4:5,6 refutar com Mt 17:10-13)

·         As Duas Testemunhas são Cristãos Desconhecidos


Esta interpretação diz que as duas testemunhas do Apocalipse não serão personagens bíblicos conhecidos. Na verdade os dois profetas serão cristãos, ainda anônimos, que serão levantados por Deus no período final, durante a grande tribulação.

Então estes dois cristãos exercerão um ministério muito importante e especial. Eles atuarão no espírito e no poder de Elias e Moisés, mas não serão eles próprios. Isto seria algo semelhante ao que ocorreu no ministério de João Batista (Lc 1:15-17).

·         Outras Interpretações sobre as Duas Testemunhas do Apocalipse


Outras duas importantes interpretações se destacam dentro da teologia reformada sobre quem são as duas testemunhas do Apocalipse.

Em comum, estas duas interpretações se apegam ao estilo literário do livro do Apocalipse, considerando especialmente ao amplo uso de simbolismos.

A primeira - delas defende que as duas testemunhas são o Antigo e o Novo Testamento. Em outras palavras, as duas testemunhas são referências simbólicas utilizadas pelo autor do Apocalipse para se referir ao propósito central das Escrituras reveladas no Antigo e no Novo Testamento dados a humanidade após a primeira vinda de Cristo. Uma revelação que ele teve sobre a bíblia ser conhecida em todo mundo.

A segunda - e mais amplamente aceita dentro da teologia reformada, diz que as duas testemunhas são um símbolo da verdadeira Igreja de Cristo na face da terra. Então as duas testemunhas representam no texto do Apocalipse toda a Igreja militante ao longo dos tempos sem divisão denominacional, a junção entre os judeus convertidos com a igreja apostólica.



3 - Introdução



A curiosidade sobre quem são as duas testemunhas do Apocalipse é um tema bastante discutido entre os cristãos. Essas duas testemunhas são mencionadas num capítulo do Apocalipse que descreve um contexto de perseguição contra o povo de Deus.

Em harmonia com o restante do livro, esse capítulo traz muitas informações, e é caracterizado pelo uso de linguagem simbólica. Apesar dos detalhes, a identidade das duas testemunha não são reveladas diretamente.

Existem realmente muitas interpretações que tentam explicar quem são as duas testemunhas. Muitas dessas interpretações que surgiram ao longo da História do Cristianismo foram defendidas por cristãos sinceramente comprometidos com a Palavra de Deus.

No entanto, toda base de interpretação deve ser a própria bíblia. Cada palavra, significado e simbologia do Apocalipse só serão entendidos se analisados paralelamente com outros textos que tratam do mesmo assunto nas Escrituras.

Sabendo que todo livro profético usa uma linguagem metafórica para descrever um evento literal, e não o contrário.



4 - Contextualizando



Ap 11:1-3 – “Depois disso, recebi uma vara de medir e me foi dito: “Vá e tire as medidas do templo de Deus e do altar, e conte o número de adoradores. Mas não meça o pátio exterior, porque ele foi entregue às nações. Elas pisotearão a cidade santa durante 42 meses. “Darei autoridade às minhas duas testemunhas para que profetizem durante mil duzentos e sessenta dias, vestidas de pano de saco”.

João recebeu uma vara, muito parecida com aquela mencionada por Ezequiel (Ez 40.3,5) em sua visão das medidas do templo. A medida dos que nele adoram pode significar avaliação daqueles que prestam adoração ao Senhor no templo, (2 Rs 21:13; Is 10:5; Zc 2:1) e sobre julgamento da igreja, já que vara e bastão falam do juízo de Deus.  Da mesma forma, quando procuramos nas Escrituras referências de testemunhas, encontramos, entre outros, os seguintes textos: 2 Rs 21:13; At 1:8; 10:39; Hb 12:1).

O pano de saco ou “cilício” era um tecido grosseiro e resistente feito de pelos de cabra ou de camelo, utilizado para conter cereais, objetos e alimentos em geral. Esse pano de saco era devidamente cortado e vestido como uma roupa por algumas pessoas em algumas ocasiões, e a cinza era o conhecido pó resultante da queima de alguma coisa. Usava-se esse “traje” quando:



·         A pessoa ou o povo estava passando por momentos de grande tristeza: “Disse, pois, Davi a Joabe e a todo o povo que com ele estava: Rasgai as vossas vestes, cingi-vos de panos de saco e ide pranteando diante de Abner. E o rei Davi ia seguindo o féretro.” (2 Sm 3.31).

·         A pessoa ou povo estava passando por momentos de arrependimento: “Ai de ti, Corazim! Ai de ti, Betsaida! Porque, se em Tiro e em Sidom, se tivessem operado os milagres que em vós se fizeram, há muito que elas se teriam arrependido, assentadas em pano de saco e cinza.” (Lc 10.13)

·         A pessoa ou povo estava passando por momentos de humilhação: “Pus um pano de saco por veste e me tornei objeto de escárnio para eles.” (Sl 69.11)



Como vimos essa é uma expressão muito significativa ao povo judeu e que diz muito a respeito de seus sentimentos e atitudes.



Ap 11:4-6 - “São estas as duas oliveiras e os dois candelabros que estão em pé diante do Senhor da terra. Se alguém pretende causar-lhes dano, da boca dessas testemunhas sai fogo e devora os inimigos; sim, se alguém pretender causar-lhes dano, certamente deve morrer. Elas têm autoridade para fechar o céu, para que não chova durante os dias em que profetizarem. Têm autoridade também sobre as águas, para transformá-las em sangue, bem como para ferir a terra com todo tipo de flagelos, tantas vezes quantas quiserem”.

As testemunhas são descritas como duas oliveiras e dois castiçais, associando-as à visão em Zacarias 4, sobre os dois ungidos, que estão diante do Senhor de toda a terra (Zc 4-14). Lá, os dois ungidos eram Zorobabel (descentende real de Davi) e Jesua, o sumo-sacerdote.

Oliveira na Bíblia é a representação de Israel segundo Rm 11:15-21, que nos revela que nós fomos enxertados nessa oliveira, tornando-nos povo. E castiçal ou candelabro na bíblia representa a igreja segundo Ap 1:20.

Dois na bíblia representa testemunho, unidade, comunhão (Ec 4:912; Mc 6:7; Lc 10:1; Mt 18:16)

O fogo saindo da boca das duas testemunhas para punir quem se opuser a elas, é parecido com a descrição de Jeremias 5:14, mostrando que a declaração da Palavra de deus terá uma intensidade poderosa.

Aparentemente, a missão delas será impossível de ser interrompida durante três anos e meio (Ap 11.3) até quando acabarem o seu testemunho (v.7).

O fogo também lembra dois dos milagres de Elias (1 Rs 18; 2 Rs 1), que serviram para testemunhar ao rei Acabe, assim como para todo o povo de Israel que havia se desviado da presença de Deus, que somente YHWH é o Senhor.

A menção sobre elas também poderem assolar a terra com pragas (Êx 7—11) lembra a experiência vivenciada por Moisés no Egito, outro acontecimento que serviu para mostrar a Faraó, o imperador da época, quanto para os egípcios que representam os gentios, assim como para o povo de Israel, que representa o povo de Deus, que somente Deus é Deus acima de qualquer outro no mundo (Rm 9:17-18)

Em Isaías 44, Deus usa o profeta Isaías para dizer que Israel é a Sua testemunha nessa terra, e que ela apregoará a Sua palavra quando abandonar a sua idolatria.

Em ambos os textos podemos observar que as testemunhas são usadas para mostrar ao povo de Deus quem Ele é, e para fazê-los retornar à obediência a Deus e não apenas para apregoar o evangelho aos ímpios.



Ap 11: 7-10 - “Quando tiverem, então, concluído o testemunho que devem dar, a besta que surge do abismo fará guerra contra elas; a besta vencerá e matará as testemunhas. E os seus cadáveres ficarão estirados na praça da grande cidade que, espiritualmente, se chama Sodoma e Egito, onde também o seu Senhor foi crucificado. Então, muitos dentre os povos, tribos, línguas e nações contemplarão os cadáveres das duas testemunhas, por três dias e meio, e não permitirão que esses cadáveres sejam sepultados. Os que habitam sobre a terra se alegrarão por causa da morte dessas duas testemunhas, realizarão festas e enviarão presentes uns aos outros, porque esses dois profetas atormentaram os que moram sobre a terra”.

O verbo traduzido como concluído é o mesmo que Jesus usou quando gritou triunfantemente na cruz: Está consumado (Jo 19.30). A besta tem a permissão para matar as duas testemunhas na cidade que espiritualmente se chama Sodoma e Egito. A besta, que vem à tona como um governante mundial satanicamente autorizado nos capítulos 13 e 17, emerge do abismo, assim como a praga dos gafanhotos demoníacos da quinta trombeta (Ap 9.1-10). A grande cidade no Apocalipse geralmente é a Babilônia (Ap 14.8), que provavelmente representa Roma ou qualquer grande império mundial, ou sistema satânico. (l Pe 5.13).

Porém, a descrição mais adiante, de onde o seu Senhor também foi crucificado, parece referir-se a Jerusalém. Alguns estudiosos entendem a frase como simbólica, significando o mundo pecaminoso no qual Cristo foi crucificado. Sodoma foi o primeiro modelo de degeneração moral em uma grande cidade (Gn 19); o Egito era o protótipo da idolatria desenfreada e da escravidão imposta.

Povos, e tribos, e línguas, e nações são aqueles para quem o testemunho do evangelho deve continuar até a consumação dos séculos (Mt 28.19,20). Os que habitam na terra são aqueles sobre quem o juízo de Deus recairá (Ap 6.10; 8.13). Estar morto por três dias e meio lembra os três anos e meio da missão das testemunhas, já que dia na bíblia representa ano (v.3). A morte das duas testemunhas (v.7) iniciará uma celebração global entre os infiéis que odiaram a mensagem verdadeira delas e o domínio completo da besta.

A morte em praça pública pode ser entendida como proibição e aniquilamento da pregação por um tempo. E a ressurreição, é a prova de que nada e ninguém podem coibir a mensagem de Deus e que no fim, ela ressurgirá mais poderosa e abrangente.

Nesta etapa se cumprirá as palavras de Jesus em  Mt 24:14; Mc 13:11-13; Lc 21:12-15.





Ap 11:11-14 –Mas, depois dos três dias e meio, entrou neles um espírito de vida vindo da parte de Deus, e eles se ergueram sobre os pés, e aqueles que os viram ficaram com muito medo. E as duas testemunhas ouviram uma voz forte vinda do céu, dizendo-lhes: — Subam para cá. E subiram ao céu numa nuvem, e os seus inimigos as contemplaram. Naquela hora, houve grande terremoto, e ruiu a décima parte da cidade. Nesse terremoto, morreram sete mil pessoas. As outras pessoas ficaram aterrorizadas e deram glória ao Deus do céu. Passou o segundo ai. Eis que, sem demora, vem o terceiro ai”.

O espírito de vida, vindo de Deus, lembra a profecia dos ossos secos (Ez 37).

Subi cá é a mesma ordem dada a João em Ap 4.1. Subiram ao céu em uma nuvem lembra a descrição da ascensão de Cristo (At 1.9) e o ensino de Paulo sobre o arrebatamento, em 1 Ts 4.17. Alguns estudiosos acreditam que o arrebatamento do povo de Deus acontecerá nesse exato momento, já que este acontecimento antecede a última trombeta (Mt 24:30-31; 1 Co 15:51-52; 1 Ts 4:16), que declara a vitória de Cristo e a implantação do Seu reino.

Outro texto que mostra isso é Ap 10:7 – “Mas, nos dias em que o sétimo anjo estiver para tocar sua trombeta, vai cumprir-se o mistério de Deus, como Ele o anunciou aos seus servos, os profetas”.(NVI)

E qual é a verdade que ainda não foi totalmente revelada (Ef 3.9) os quais serão compreendidos plenamente apenas quando os eventos ocorrerem? A volta de Jesus. (1 Co 15:51; Ef 5:32; Ap 10:7) para todos que o aceitaram como Cristo, entre judeus e nações gentias.



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