*** Somente a Fé Leva a Salvação ***
“Vou subir a minha torre de vigia e vou esperar com atenção o que Deus vai dizer e como vai responder à minha queixa. E o Senhor Deus disse: “Escreva em tábuas a visão que você vai ter, escreva com clareza o que vou lhe mostrar, para que possa ser lido com facilidade. Ainda não chegou o tempo certo para que a visão se cumpra; porém ela se cumprirá sem falta. O tempo certo vai chegar logo;
“Vou subir a minha torre de vigia e vou esperar com atenção o que Deus vai dizer e como vai responder à minha queixa. E o Senhor Deus disse: “Escreva em tábuas a visão que você vai ter, escreva com clareza o que vou lhe mostrar, para que possa ser lido com facilidade. Ainda não chegou o tempo certo para que a visão se cumpra; porém ela se cumprirá sem falta. O tempo certo vai chegar logo;
portanto, espere, ainda que pareça demorar, pois a visão virá no momento
exato. A mensagem
é esta:
“Os maus não terão segurança, mas as pessoas corretas viverão por serem
fiéis a Deus.”
(Habacuque 2:1-4)
3 – Sola Fide (Somente a Fé leva
a Salvação)
1 –
Introdução
Sola fide é uma das bandeiras defendidas pela teologia reformada desde seu
nascedouro. Todos os reformadores se levantaram vigorosamente contra a doutrina
da salvação pelas obras, ou pelos méritos, ou da colaboração com Deus na
salvação. Todos eles, desde o início de seu ministério reformado, afirmaram que
a fé é o único instrumento que Deus nos dá para nos apossarmos da salvação que
ele concede graciosamente. Mas essa não foi a única frente na qual os
reformadores tiveram que defender a doutrina da fé. Eles também tiveram que
sustentá-la em oposição ao formalismo religioso e à secularização da fé.
1
- Pela Fé, Não Pelas Obras
Muitas doutrinas sustentadas pela igreja romana
estavam em aberto desacordo com o ensino da Escritura e houve muita
controvérsia sobre muitos temas importantíssimos para a teologia cristã. No
entanto, o estopim da Reforma está diretamente relacionado à forma como nos
apropriamos da salvação. Na lição passada, vimos uma das formas pelas quais a
pessoa podia se apropriar da salvação, segundo a crença romana: pelas
indulgências. Também vimos que essa crença não se harmoniza com o ensino
bíblico sobre a salvação, motivo pelo qual os reformadores fizeram questão de
sustentar: sola gratia. A salvação é somente pela graça.
Havia, porém, uma forte doutrina
romana que afirmava que a salvação era obtida por merecimento. Na medida em que
a pessoa ia acumulando mérito diante de Deus, sua salvação ia ficando mais
próxima. Mesmo que a pessoa não tivesse mérito suficiente para obter a
salvação, esse mérito seria levado em conta para abreviar sua passagem pelo
purgatório. O modo como o merecimento aumentava era pela prática de boas obras.
Entre essas obras estavam as ações de caridade e a piedade religiosa.
·
As Ações de Caridade
Não há dúvida de que a ação em
favor do necessitado é uma parte importante da religião cristã (Tg 1.27; 1 Jo 3.17). A teologia reformada não
negligencia a importância do socorro ao necessitado e entende que não prestar
esse socorro seria negligenciar o claro ensino da Escritura. No entanto, ela
rejeita a associação desse dever cristão com a aquisição da salvação.
·
A Piedade Religiosa
Outra forma de boa obra é a
piedade religiosa: freqüência às atividades da igreja, prática de orações
diárias, devoção aos santos, ajuda ao sacerdote e envolvimento com o calendário
eclesiástico, etc. A intensidade e a freqüência com que uma pessoa expressa sua
religião era vista como um meio de se obter a salvação. A teologia reformada
defende o compromisso do cristão com a comunidade cristã da qual faz parte e
ensina a importância do cumprimento dos deveres cristãos. No entanto, entende
que atribuir valor salvifico a isso é ir longe demais.
·
Salvos pela graça Mediante a Fé
Contra a doutrina da salvação
pelo mérito, a teologia reformada afirma que somos salvos pela graça mediante a
fé. Nenhum de nós tem méritos para barganhar com Deus. Somos todos pecadores e,
por isso, tudo o que merecemos é a morte, que é o salário devido ao nosso
pecado (Rm 6.23). É uma grande bênção o fato de
que Deus “não nos trata segundo os nossos pecados, nem nos retribui consoante
as nossas iniqüidades” (Sl 103.10).
Mas se não somos salvos pelas indulgências (como
vimos na lição anterior), nem pela prática da caridade, nem pela piedade
religiosa, nem por qualquer mérito que porventura pudermos imaginar ter, como
nos apropriamos da salvação oferecida por Deus? Pela fé (Ef 2.8; Rm 1.17).
É pela fé que nos apropriamos do sacrifício que
Jesus realizou na cruz em nosso lugar. A salvação é concedida graciosamente a
todo aquele que crê (Jo 3.16).Quando entendemos
que não temos mérito nenhum diante de Deus, que tudo o que fazemos sempre será
manchado pelo pecado e que somos incapazes, por nós mesmos, de obter nossa
salvação, nos refugiamos em Deus e encontramos abrigo seguro. O Catecismo
Menor de Westminster (1647) na questão 86, assim define: “Fé em Jesus
Cristo é uma graça salvadora, pela qual o recebemos e confiamos só nele para a
salvação, como ele nos é oferecido no Evangelho”.
3
- Muito Mais do que o Formalismo
Outra controvérsia a respeito da
fé se refere à própria natureza da fé. É comum as pessoas imaginarem que fé e formalismo
religioso são a mesma coisa. Esse erro foi cometido na Idade Média, quando as
pessoas viam um homem freqüente aos trabalhos da igreja e zeloso no cumprimento
de seus deveres religiosos e imaginavam: “Aí está um homem de fé”. No entanto,
por mais importante que seja o zelo religioso, a fé é muito mais do que isso.
Não devemos desprezar o valor da participação nos cultos e no cumprimento dos
deveres religiosos, mas viver pela fé é muito mais do que a prática de atitudes
religiosas. Viver pela fé é viver em obediência a palavra do Senhor, é ter
comunhão com Deus, é zelar pela vida cristã, é ter motivos e objetivos nobres
aos olhos do Senhor.
O que é mais triste nessa
história é que esse erro não foi cometido somente na Idade Média. Ele é
cometido hoje, inclusive entre os protestantes. Viver pela fé é muito mais do
que vestir uma roupa bonita para participar de um culto, muito mais do que se
esforçar para estar presente em inúmeras atividades eclesiásticas, muito mais
do que levantar a mão e gritar aleluia. Viver pela fé é refletir a luz de
Cristo neste mundo mal e confuso em que vivemos, é dar um testemunho fiel de
Jesus Cristo, é demonstrar ao mundo, externamente, a mudança que o Espírito
Santo realizou dentro de você e a diferença que Cristo faz na sua vida.
4 - A
Fé Secularizada
Outro problema com o qual nos deparamos atualmente
é o da secularização da fé. Esse é o nome que se dá à fé que é de
tal modo influenciado pelos valores e posturas deste mundo caído que acaba
ficando irreconhecível. O fenômeno da secularização da fé se apresenta em duas
formas distintas: o formalismo religioso e o ateísmo cristão.
·
O Formalismo Religioso
Nesta forma de secularização, os aspectos externos
da prática religiosa são preservados, mas seu conteúdo espiritual é esvaziado.
A pessoa continua freqüentando os trabalhos da igreja, mantendo suas amizades
evangélicas e todo um aspecto de piedade, mas seu coração está vazio e longe de
Deus.
A Escritura menciona vários casos desse tipo, mas
há dois que são emblemáticos. O primeiro, que já fizemos breve menção, é quando
Deus condena o formalismo religioso vazio dos judeus no tempo do profeta
Isaías: “De que me serve a mim a multidão de vossos sacrifícios? – diz o
Senhor. Estou farto de holocaustos de carneiros e da gordura de animais cevados
e não me agrado do sangue de novilhos, nem de cordeiros, nem de bodes. Quando
vindes para comparecer perante mim, quem vos requereu o só pisardes os maus
átrios?” (Is 1.11-12). O povo mantinha sua
prática religiosa, mas todo o seu conteúdo espiritual havia se perdido. Suas
ofertas tinham se tornado vão, suas orações não eram ouvidas pelo Senhor e seu
culto causava desprazer em Deus.
O segundo é quando o Cristo
glorificado, na visão do Apocalipse, dita a carta à igreja de Éfeso: “Tenho, porém,
contra ti que abandonaste o teu primeiro amor”. O vigor espiritual
dos crentes de Éfeso não era mais o mesmo. Essa igreja tinha sido muito
privilegiada: Paulo visitou essa cidade (At 18.19-21)
em sua segunda viagem missionária. Ele deixou ali Priscila e Áquila para que
cuidassem da igreja (At 18.19). Apolo também
esteve ali (At 18.25). Em sua terceira viagem
missionária, Paulo permaneceu três anos em Éfeso (At
20.31) e se tornou muito amigo dos presbíteros daquela igreja. Ao
retornar para Jerusalém, sabendo que não mais os veria, despediu-se deles com
um discurso comovente (At 20.17-38). Mais tarde,
já preso em Roma, escreveu sua carta aos Efésios. Por orientação do próprio
Paulo, Timóteo se instalou em Éfeso para cuidar da igreja (1 Tm 1.3) e, mais tarde, por volta do ano 66 d.C., o
próprio João esteve em Éfeso e pastoreou aquela igreja.
A igreja de Éfeso foi muito abençoada. Ela foi
pastoreada por nada menos que dois apóstolos e quatro
evangelistas de grande influência. Que grande privilégio. No entanto, quando
João, preso na ilha de Patmos, escreveu a carta à igreja de Éfeso (Ap 2.1-7), pelo menos 30 anos já tinham se passado
desde a chegada de Paulo ali. Os primeiros convertidos já tinham uma boa
jornada cristã e uma nova geração de crentes havia surgido. Os primeiros
cristãos de Éfeso tinham sido edificados na fé e tinham cumprido seu papel de
candeeiros do mundo, apresentando seu Senhor a uma nova geração, mas essa nova
geração não tinha o mesmo vigor espiritual da primeira. A fé estava em perigo. Porém,
tanto para os judeus do tempo de Isaías quanto para os crentes de Éfeso havia
uma esperança: arrependimento e fé.
·
O Ateísmo Cristão
A segunda forma pela qual o
fenômeno da secularização da fé pode ser percebido é por meio do que podemos
chamar de ateísmo cristão. Se no formalismo os aspectos externos da fé podiam
ser vistos, no ateísmo cristão nem mesmo esses aspectos externos podem ser
vistos com facilidade. Não há mais frequência regular aos cultos, apenas
visitas esporádicas totalmente desprovidas de compromisso com a causa do
evangelho (ou nem isso); o comportamento social em nada difere do comportamento
de um não regenerado e a Bíblia se transformou em amuleto cuidadosamente
guardado no fundo de uma gaveta, de onde só sai em momentos de crise, para ser
agarrada e beijada de modo supersticioso, geralmente com lágrimas.
Para as duas situações, a teologia reformada
apresenta mais uma bandeira dos reformadores: sola fide. Só a
fé. Devemos, nos lembrar, contudo, que não há mérito humano na fé. A fé é graça
que se materializa em obediência a Deus.
5 - Conclusão
Secularização da fé, formalismo
religioso, salvação pelas obras. Nada disso pertence à natureza da fé, da
salvação e da vida cristã. A teologia reformada, com sua ênfase na doutrina da
fé, convida a igreja de Cristo a olhar para além das circunstâncias religiosas
em que vive e manter com Cristo, pela fé, uma doce e estreita comunhão que
produz vida eterna e abundante.
6 - Aplicação
Você consegue explicar com suas
palavras o que é a secularização da fé? Consegue identificar pelo menos cinco
caminhos pelos quais essa secularização penetra na igreja e abate o vigor
espiritual dos cristãos?
Leitura Diária
Domingo – Tg 1.19-27 – A fé em ação
Segunda – Rm 6.23 – O que realmente merecemos
Terça– Sl 103.1-22 – Não segundo os nossos pecados
Quarta – Ef 2.1-10 – Pela graça mediante a fé
Quinta – Rm 1.16-17 – A salvação do que crê
Sexta – Is 1.10-20 – A fé secularizada
Sábado – Ap 2.1-7 – A igreja secularizada
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