“Bem-aventurados os que lêem, bem como os que ouvem, as palavras desta profecia e obedecem às orientações que nela estão escritas, porquanto o tempo desses eventos está às portas.” (Ap 1:3)
1 – Introdução
O livro de apocalipse diz de si mesmo que é uma “profecia” (Ap 1:3), por isso, na sua maior parte, é futurista.
O apocalipse, diferente de outros livros, pois foi dado ao apóstolo João por meio de uma visão, orientando-o sobre o que deveria ser escrito.
João escreveu por volta de 95 d.C, no fim do reinado do imperador Domiciano (81-96 d.C). Domiciano baniu João para a ilha de Patmos, por causa de sua firme posição cristã. Em tais circunstâncias difíceis, o apóstolo recebeu visões de Deus registradas num rolo. Ele enviou seu manuscrito inspirado por direção divina para as sete igrejas na Ásia Menor Ocidental (Turquia).
Assim como em toda bíblia, o escritor não sabia que estava escrevendo a bíblia, a Palavra de Deus a todas as gerações, mas o Espírito Santo, ao inspirá-lo, sabia. Por isso, para estudar a bíblia, é preciso analisar seu contexto histórico, bem como saber aplicar ao nosso contexto.
As três epístolas de João e Apocalipse foram escritos pelo apóstolo João, mas Apocalipse é o único desses livros que afirma, no próprio livro, ter sido escrito por alguém chamado João. Da mesma forma o Evangelho de João é tradicionalmente atribuída à autoria a ele.
2 – Métodos de Interpretação do Apocalipse
Apocalipse é com certeza um dos livros mais discutidos ao longo da história da igreja, e considerado um dos mais difíceis da Bíblia para se interpretar pela maioria dos cristãos, devido ao grande número de símbolos e figuras presentes no livro.
Existem então diferentes métodos de interpretação do livro de Apocalipse, e veremos resumidamente, cada uma dessas interpretações.
Vale ressaltar que tais interpretações ou padrões de hermenêutica, não se aplicam apenas ao livro de Apocalipse, mas também à outros textos bíblicos (principalmente aos livros proféticos).
a) Interpretação Preterista de Apocalipse
Este método considera o contexto histórico na interpretação do Apocalipse, ou seja, muito do simbolismo presente no livro está relacionado aos acontecimentos contemporâneos da época em que foi escrito. Nesse método, muitas das profecias do Novo Testamento foram cumpridas na destruição de Jerusalém em 70 d.C. e em eventos do período da igreja primitiva.
Dentro desta interpretação, existe uma classificação que podemos chamar de Preterismo Moderado e Preterismo Radical. Basicamente a diferença entre moderado e o radical é a totalidade ou não do cumprimento das profecias. O Radical acredita que tudo foi cumprido em 70 d.C. na destruição de Jerusalém e depois na queda do Império Romano, enquanto o Moderado acredita em uma segunda vinda de Cristo, ressurreição dos mortos e julgamento final.
O Preterismo Radical é considerado por muitos herético, pois nega fundamentos básicos da fé cristã, como a segunda vinda de Cristo. Dentro do Apocalipse, os preteristas, pelos menos em sua maioria, identificam à besta como sendo o Império Romano, o falso profeta seriam os sacerdotes que instituía o culto ao imperador, a grande meretriz como sendo a cidade de Roma ou a própria Jerusalém apóstata.
b) Interpretação Historicista de Apocalipse
Estes intérpretes encaixam todos os acontecimentos previstos no Apocalipse em várias épocas da história humana, considerando somente os capítulos 19 a 22 como possivelmente futurista.
c) Interpretação Futurista de Apocalipse
Na interpretação Futurista, tudo no livro de Apocalipse está relacionado aos acontecimentos futuros do fim dos tempos, com exceção apenas dos três primeiros capítulos.
A interpretação Futurista se popularizou com o surgimento da corrente escatológica conhecida como Dispensacionalismo (ou Pré-Milenismo Dispensacionalista) e que se tornou a principal visão escatológica dentro do movimento pentecostal, inclusive da nossa igreja Wesleyana.
A interpretação Futurista crê que haverá um arrebatamento secreto da igreja antes de um período de sete anos de grande tribulação, a besta será um líder político que liderará um governo mundial, o falso profeta seria uma espécie de ecumenismo religioso que tomará o mundo durante governo do Anticristo e ao final Cristo voltará para livrar o povo de Israel e estabelecer um reino literal de mil anos (Milênio) na terra com o povo de Israel.
d) Interpretação Idealista de Apocalipse
A interpretação Idealista pode ser definida como totalmente simbólica, na medida em que interpreta toda descrição presente no livro de Apocalipse como símbolos, verdades ou ideais espirituais, ou seja, nada irá ocorrer realmente de forma literal e histórica, mas completamente de maneira espiritual.
De forma resumida, o Idealismo interpreta o Apocalipse como um símbolo da luta entre o bem e o mal, entre a igreja e o paganismo dominado pelo poder satânico. Sendo assim, verdades espirituais são ensinadas para que cristão possam aplicá-las em diversas situações.
Existem também alguns idealistas que interpretam a segunda vinda de Cristo e o juízo final como algo simbólico, caindo no mesmo erro dos preteristas radicais, enquanto outros, mesmo idealistas, interpretam como eventos literais que acontecerão.
3 - As Diferentes Correntes Escatológicas
Embora se dividam em quatro visões escatológicas diferentes, dentro de cada uma das quatro visões ainda existem diferentes interpretações de pontos específicos por seus adeptos. Vejamos um resumo dessas quatro principais correntes escatológicas.
· Pré-Milenismo Histórico
O Pré-Milenismo Histórico defende que a segunda vinda de Cristo acontecerá em um evento único após o período de tribulação (ou grande tribulação), ou seja, no Pré-Milenismo Histórico a igreja estará na terra durante esse período de tribulação intensa, e ao final deste período então ocorrerá à vinda de Jesus.
Na segunda vinda de Cristo, os justos ressuscitarão, e os salvos que estiverem vivos terão seus corpos transformados. Na ocasião, o Anticristo será julgado, Satanás será preso e Cristo reinará durante mil anos literais na terra, cujo período será de grande benção, paz e prosperidade.
Ao final dos mil anos, Satanás será solto por um curto período de tempo e tentará fazer uma guerra contra Deus, porém será derrotado definitivamente e lançado para condenação eterna no Lago de Fogo. É também nesse momento que os ímpios serão ressuscitados para serem julgados e condenados juntamente com Satanás e seus anjos. Após esse acontecimento começará o estado eterno.
O Pré-Milenismo Histórico vem sendo ensinado provavelmente desde o século I d.C., porém as primeiras evidências desse ensino datam do século II com Justino Mártir e Irineu. Grandes nomes da Igreja mais contemporânea adotaram o Pré-Milenismo Histórico como: James Montgomery, Charles Spurgeon, George E. Ladd, M. J. Erickson.
· Pré-Milenismo Dispensacionalista (a Wesleyana crê nesse)
O Pré-Milenismo Dispensacionalista é bem diferente do Pré-Milenismo Histórico. Embora também tenha uma visão pré-milenial da segunda vinda de Cristo, o Dispensacionalismo divide esse evento em duas fases distintas. Primeiramente ocorrerá o arrebatamento secreto da Igreja, e, juntamente com o surgimento do Anticristo, será dado início aos famosos sete anos de grande tribulação na terra, que como base dessa cronologia é utilizada uma interpretação das setenta semanas de Daniel (no caso esse período seria a septuagésima semana) combinado com um esquema de leitura do livro de Apocalipse (sobretudo do cap 13). No arrebatamento da Igreja ocorrerá apenas a ressurreição dos justos. No período de sete anos de tribulação a Igreja estará com Cristo no céu.
Após os sete anos de tribulação, haverá a Batalha do Armagedom, e Cristo retornará para destruir o Anticristo e os inimigos de Israel. As nações serão julgadas, e as que tiverem apoiado Israel participarão do milênio, que será também um reino literal de mil anos de Cristo na terra, como defende a visão anterior.
Haverá a ressurreição dos judeus após os sete anos de tribulação. Os que se voltaram contra Israel serão destruídos e aguardarão o último julgamento para condenação eterna.
No reino milenar, o Templo terá sido reconstruído e Cristo se assentará no trono de Davi, para que se cumpra todas as profecias pendentes a Israel (nesse sistema existe a completa distinção entre Israel e Igreja).
No final do milênio, Satanás será solto por um período de tempo, enganará as pessoas e fará uma rebelião contra Cristo e a Nova Jerusalém, porém Satanás será derrotado e lançado no Lago de Fogo. Haverá também a ressurreição dos ímpios para o grande julgamento, os quais serão lançados no Lago de Fogo.
O Dispensacionalismo ou Pré-Milenismo Dispensacionalista, é com certeza a corrente escatológica mais complexa e surgiu recentemente, em meados do século XIX.
Os principais nomes do Dispensacionalismo são: Jhon N. Darby, C. I. Scofield, L. S. Chafer, J. D. Pentecost, J. F. Walvoord, J. McArthur e H. Lindsey.
É importante ressaltar também que existe o Dispensacionalismo Progressivo, o qual difere bastante do Dispensacionalismo Clássico. Nesse sistema a Igreja não representa uma interrupção no plano de Deus para Israel como no modelo clássico, e sim uma parte integral desse plano, ou seja, é uma progressão desse plano. O Dispensacionalismo Progressivo, em sua maioria, defende a vinda de Cristo em um evento único e pós-tribulacional.
· Pós-Milenismo
A visão Pós-Milenista acredita que a segunda vinda de Cristo ocorrerá após o milênio.
Dentro do próprio Pós-Milenismo existem diferentes opiniões sobre esse período milenar.
Alguns acreditam que se trata dos últimos mil anos antes da volta de Cristo, enquanto outros defendem que o Milênio é o período que compreende desde a primeira até a segunda vinda de Cristo.
O Pós-Milenismo afirma que nesse período ocorrerá uma completa evangelização no mundo, e que a maioria das pessoas serão convertidas, o que ocasionará um grande desenvolvimento global em todos os aspectos (social, econômico, político e cultural). Entre o imenso número de convertidos estarão também muitos judeus, que reconhecerão Jesus como o Messias.
No final desse período, Cristo voltará, acontecerá a ressurreição tanto dos justos quanto dos ímpios, o julgamento final e o estado eterno será estabelecido.
Grandes teólogos e pregadores na História da Igreja ensinaram o Pós-Milenismo, entre eles João Calvino, Jhon Knox, Jhon Owen, Jonathan Edwards, Charles Hodge. Todos a partir do século XVI.
· Amilenismo
Embora o termo “Amilenismo” literalmente signifique “sem milênio” ou “não milênio”, o Amilenismo, de forma alguma nega o milênio. O Amilenismo entende que o capítulo 20 do Apocalipse que descreve o milênio, se refere ao período entre a primeira e a segunda vinda de Cristo, ou seja, os “mil anos” são simbólicos e não estão relacionados a um período de paz e prosperidade na terra, mas ao caráter espiritual do Reino de Cristo.
Alguns defendem que o Reino de Cristo acontece, sobretudo, com os salvos que já morreram e estão nos céu reinando com Cristo até a segunda vinda, enquanto outros acreditam que também existe uma conexão com a igreja, e a pregação do evangelho na terra, porém essa evangelização não será acompanhada de paz e prosperidade, mas de sofrimento terreno, o qual a igreja de Cristo sempre enfrentou ao longo de sua história.
No Amilenismo o fato de Satanás estar amarrado não significa que ele está totalmente “sem ação” no mundo, pelo contrário, ele está agindo no presente momento, porém está limitado e incapacitado de barrar o avanço da pregação do Evangelho na terra.
Os Amilenistas também defendem um período final de tribulação sem precedentes em que Satanás será solto, ou seja, Deus permitirá que ele engane novamente as nações, e é nesse período que a Igreja passará por seu momento mais difícil na terra. Então Cristo voltará com poder e glória, haverá a ressurreição geral (santos e ímpios), o juízo final e o estado eterno, com novo céu e nova terra.
O Amilenismo foi criado durante a reforma da igreja, em meados do século XVI (mesmo que com algumas diferenças) foi defendido por notáveis líderes e teólogos como, Agostinho, Martinho Lutero, Abraham Kuyper, Herman Bavinck, G. Vos, L. Berkhof, Anthony Hoekema, William Hendriksen.
Vamos Conferir?
DIFERENÇAS ENTRE AMILENISMO, PRÉ-MILENISMO
HISTÓRICO, PRÉ-MILENISMO DISPENSACIONALISTA E PÓS-MILENISMO
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SEGUNDA VINDA DE
CRISTO
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Amilenismo
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Pré-Milenismo
Histórico
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Pré-Milenismo Dispensacionalista
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Pós-Milenismo
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A segunda vinda de Cristo é um evento único e visível a
todos, ou seja, não existe o conceito de arrebatamento
secreto. No Amilenismo a Segunda Vinda de Cristo em
glória e o arrebatamento é uma coisa só. Saiba como será o
arrebatamento da Igreja.
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A Segunda Vinda de Cristo e o arrebatamento são o mesmo
evento, tal como no Amilenismo.
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A segunda vinda de Cristo será dividida em
duas fases, sendo a primeira para arrebatar secretamente a igreja, e a
segunda de forma visível e em glória após os sete anos de grande tribulação.
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Igual às visões anteriores, Cristo volta de
forma visível e em glória em um único evento.
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RESSURREIÇÃO DOS MORTOS:
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Ressurreição geral de salvos e ímpios na
segunda vinda de Cristo. Os salvos para reinarem com Deus e os ímpios para
condenação eterna
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Apenas os salvos ressuscitarão na segunda vinda
de Cristo para reinarem com Ele no Milênio, enquanto os ímpios só
ressuscitarão no final do milênio para a condenação eterna.
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O Dispensacionalista exige três
ressurreições:
A primeira dos salvos no
arrebatamento da igreja;
A segunda dos judeus após os sete
anos de grande tribulação (alguns também defendem que os salvos do período da
grande tribulação também ressuscitarão nesse momento, enquanto outros
acreditam que somente após o milênio eles ressuscitarão);
A terceira dos ímpios após o
milênio.
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Da
mesma forma como no Amilenismo, salvos e ímpios ressuscitaram de forma geral
na Segunda Vinda de Cristo.
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O ANTICRISTO
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Amilenismo
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Pré-Milenismo
Histórico
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Pré-Milenismo
Dispensacionalista
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Pós-Milenismo
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Muitos anticristos se levantaram ao longo da história,
porém haverá um último indivíduo que será o Anticristo
escatológico que surgirá no período de grande
tribulação, e regerá um sistema mundial que será contra a Igreja de Cristo.
Alguns acreditam apenas em um “sistema anticristo” (governo) e não
necessariamente em um indivíduo específico.
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Um indivíduo específico que será o inimigo da
Igreja no período de grande tribulação.
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Um indivíduo que surgirá no período da grande
tribulação, que aterrorizará o mundo e perseguirá aos que não negarem o nome
de Jesus, porém ele não fará nada contra a Igreja que já foi arrebatada.
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O anticristo é qualquer pessoa que persegue e
se opõem ao crescimento do domínio da Igreja na terra.
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A GRANDE TRIBULAÇÃO
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Somente após período de grande tribulação é que ocorrerá
a segunda vinda de Cristo, ou seja, a
Igreja passará pela grande tribulação
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A Igreja passará pela grande tribulação.
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A Igreja será arrebatada antes da grande tribulação, ou
seja, não passará por ela.
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A tribulação é experimentada na presente era. Existem
Pós-Milenistas que acreditam em um período final de grande apostasia e
tribulação antecedendo a volta de Cristo, e existem outros que defendem que
quando Cristo voltar o mundo estará em plena paz e prosperidade. Isso
acontece devido a visão sobre o milênio que essa corrente escatológica
defende.
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O JULGAMENTO
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Amilenismo
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Pré-Milenismo
Histórico
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Pré-Milenismo
Dispensacionalista
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Pós-Milenismo
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Julgamento geral (juízo final) de todas as pessoas na segunda vinda de Cristo.
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Julgamento na segunda vinda de Cristo e
também após o milênio
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Três julgamentos sendo eles:
Julgamento das obras dos salvos no
arrebatamento;
Julgamento de judeus e de alguns
gentios no final da grande tribulação;
Julgamento geral dos ímpios após o
milênio.
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Julgamento geral de todas as pessoas na segunda
vinda de Cristo.
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IGREJA E
ISRAEL
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A Igreja é o verdadeiro Israel de Deus,
e Deus tem apenas um só povo.
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A Igreja foi inserida a Israel, porém Deus
tratará com Israel separadamente concernente algumas promessas no milênio.
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A
Igreja é o novo Israel.
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Para Deus, Israel e Igreja são povos
completamente diferentes. A Igreja é um “parêntese” no plano Deus para Israel
que foi suspenso, mas será retomado após o arrebatamento secreto da Igreja.
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MILÊNIO
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O milênio não é um período literal de mil anos. No Amilenismo o
milênio é espiritual onde os salvo reinam com Cristo no céu e sobre a terra,
e começou na primeira vinda de Cristo.
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É reconhecido o Reino de Cristo na
presente era com a Igreja, porém haverá também um reino milenar e literal no
futuro após a segunda vinda de Cristo, com Jesus reinando sobre as nações do
mundo (não necessariamente o período seja de mil anos).
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Milênio
futuro e literal após a segunda fase da segunda vinda de Cristo.
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Conforme o Evangelho for sendo pregado será iniciado o milênio, onde o
mundo inteiro será evangelizado e a maioria das pessoas serão convertidas. O
cristianismo será o padrão (a referência a Parábola de Jesus é usada para defender esse conceito).
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