quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Lição 12: Profetas Maiores - Ezequiel

Autor: Ezequiel
Data: 593 – 571 a.C
Alvo: Povo de Judá
Local: Cativeiro Babilônico
Contemporâneos: Jeremias e Daniel


"É a mim que pertencem às vidas, a vida do pai e a vida do filho. Ora, é o culpado que morrerá." (Ezequiel, 18:4 – Bíblia Católica)


1 – Introdução

Como você pode lidar com um mundo desviado? Ezequiel, destinado a iniciar o ministério de sua vida como um sacerdote aos trinta anos, foi tirado de sua terra natal e enviado para a Babilônia com a idade de 25. Por cinco anos ele viveu em desespero.
Aos trinta anos, ele teve uma visão majestosa da glória do Senhor que cativou o seu ser na Babilônia. O sacerdote/profeta descobriu que Deus não era limitado pelas restrições estreitas da sua terra nativa. Em vez disso, Ele é um Deus universal que comanda e controla as pessoas e nações.
Na Babilônia, Deus concedeu a Ezequiel Sua Palavra para o povo.
A experiência de sua chamada transformou Ezequiel. Ele se tornou avidamente dedicado à Palavra de Deus, e percebeu que pessoalmente não tinha nada para ajudar aos cativos em sua situação amarga, mas estava convencido de que a Palavra de Deus falava ao seu povo e poderia dar-lhes a vitória. Ezequiel usou vários métodos para transmitir a Palavra de Deus. Utilizou arte ao desenhar um retrato de Jerusalém, ações simbólicas e conduta incomum para assegurar a sua atenção, como cortar seu cabelo e a barba para demonstrar o que Deus faria a Jerusalém e seus habitantes.
Ficou conhecido como um profeta visionário, pois quase um terço de suas mensagens, foi recebido por meio de visões.

2 – Quem foi Ezequiel

Filho de Buzi, sacerdote da linha de Zadoque (1 Rs 2.26, 27, 35; Ez 1.3; 40.46; 44.15), cujo nome significa – Deus Fortalece.
Ezequiel foi para a Babilônia em 597 a.C, na segunda e maior leva de cativos. Estes foram levados para um acampamento ao norte da Babilônia, perto do rio Quebar (Ez 1:1).
É possível que devido a influência de Daniel (que já era governador) estes reféns tivessem permissão de ficar juntos, recebendo terras para cultivo e certo grau de liberdade civil e religiosa. Isto demonstra claramente o plano minucioso de Deus. Para purificar a nação de Israel de suas práticas idólatras, foi necessário manter o povo separado dos babilônios.
Da mesma maneira Deus manteve o Seu povo separado dos egípcios durante o cativeiro naquela terra.
Suas mensagens eram todas cuidadosamente datadas, tornando assim, fácil a orientação do tempo em que estavam no exílio.
Ezequiel apesar de ser sacerdote, serviu a Deus como profeta, já que no exílio, os rituais cessaram. Assim, sua mensagem é repleta de referências ao templo. Ele condena o sacrilégio na casa do Senhor, prediz a destruição do templo e prediz a sua reconstrução.
Sua esposa morreu repentinamente no dia da destruição de Jerusalém.
As datas de suas profecias indicam que ele ministrou por um período de quase 22 anos (593-571 a.C). As tradições afirmam que seu ministério findou de repente, ao ser morto por um judeu irado, acusado pelo profeta de praticar idolatria.

3 – Contexto Histórico

O pensamento corrente em Israel é que Deus estava restrito à Palestina e ao Templo de Jerusalém. No exílio esta ideia foi posta em xeque, pois os judeus aprenderam que Deus poderia ser adorado fora dos limites da Terra Prometida.
A profecia de Ezequiel foi uma consequência dos atos políticos e religiosos do rei Manassés quando decretou o baalismo como religião oficial (2 Rs. 21:1-9). Este decreto estabeleceu, inevitavelmente, o fim da nação de Judá (2 Rs. 21:9-15; 24:3-4).
Josias, neto de Manassés, foi o último a tentar restabelecer o padrão ético, moral e religioso de Judá, quando o livro da Lei (provavelmente Deuteronômio) foi redescoberto (2 Rs. 22:3-13). Entretanto, com a morte de Josias em 609 a.C. (2 Rs. 23:28-30; 2 Cr. 35:20-27), pelo faraó egípcio Neco, sua tentativa não teve continuidade.
Após este episódio, todos os demais reis de Judá foram marionetes dos reinos que procuravam dominar a região da Palestina, que não obedeceram às regras da Aliança e não se arrependeram de seus atos, mesmo com grande volume de mensagens proféticas. O cronista vê nesta situação um caminho sem retorno (2 Cr. 36:15-16).
O faraó Neco deixou os filhos de Josias, Jeoacaz e Eliaquim, como vassalos do Egito, porém Jeoacaz foi destituído por insubordinação (2 Rs 23:31-35). Então Eliaquim, também chamado de Jeoaquim, governou Jerusalém por onze anos (2 Rs 23:34 - 24:7), cujo governo Jeremias avaliou como corrupto, idólatra, com injustiças sociais, assassinatos, roubos, extorsão e abandono da Aliança com Deus (Jr. 22:1-17).
Em 605 a.C. na batalha de Carquêmis, o Egito fugiu diante da Babilônia (2 Rs. 24:7) e Judá teve que pagar tributo a Nabucodonosor. Porém Jeoaquim rebelou-se contra a Babilônia e o resultado foi a conquista de Jerusalém em 598-597 a.C. 
Com a morte de Jeoaquim, Joaquim, seu filho, governa em seu lugar por apenas três meses até que os babilônios tomam a cidade (2 Rs. 24:1-17).
A partir daí, a família real e outras 10 mil pessoas (entre eles nobres, sacerdotes, artífices e ferreiros) foram levadas para a Babilônia, e, entre elas estava Ezequiel, que aproveitou o exílio de Joaquim para datar muitas de suas profecias aos hebreus deportados (Ez. 1:1-3; 8:1).

4 – Conteúdo e Estrutura do Livro

Seu livro sempre fez parte do cânon hebraico, mas, em virtude das diferenças em relação às cerimônias do templo e das leis mosaicas ( conferir Nm 28:11 e Ez 46:6), eruditos judeus, posteriormente, chegaram a questionar sua canonicidade até que os rabinos restringiram seu uso quando as divergências fossem solucionadas na “vinda de Elias” (Ml. 4:5).
O capítulo 1 foi proibido nas sinagogas e a leitura privada só era permitida àqueles que tivessem mais de trinta anos.
De acordo com a análise literária do livro de Ezequiel podemos afirmar que ele mesmo escreveu suas profecias, em virtude do uso constante dos pronomes “eu”, “me” e “meu”. O estilo e uniformidade de sua escrita e linguagem também contribuem para corroborar a tese de Ezequiel como autor único da obra que leva seu nome.
A data da produção do livro de Ezequiel é determinada principalmente em razão da evidência interna de treze profecias datadas a partir do dia, mês e ano do exílio do rei Joaquim. Seu chamado é do ano de 593 a.C., e sua última profecia, contra o Egito, de 571 a.C. Uma vez que Ezequiel nada fala sobre o libertação de Joaquim em 562 a.C. é possível supor que o registro das suas atividades proféticas tenha ocorrido entre 571 e 562 a.C.

O livro de Ezequiel pode ser dividido em três partes, da seguinte forma:
1 - Contra Jerusalém – (1 a 24)
2 - Contra as nações – (25 a 32)
3 - A restauração de Jerusalém (33 a 48)

5 – Ezequiel, seus Recursos e Alegorias

Ezequiel foi o profeta que mais se valeu deste recurso. Seu livro está cheio de provérbios, alegorias, pequenas descrições, visões, mas, sobretudo, de ações simbólicas.

Eis alguns dos recursos por ele empregados para ensinar a mensagem ao povo:

· Um tijolo (4.1-3) - Simbolizando o cerco e a queda de Jerusalém.
· Ele se deitando do lado esquerdo e do lado direito (4.4-8) - Simbolizando o cerco de Jerusalém e o castigo divino.
· Bolos e água racionada como sua comida (4.9-17) - Simbolizando a fome no cativeiro.
· Ele tirando a barba e raspando a cabeça (5.1-17) - Simbolizando a destruição do povo pela espada.
· Ele se mudando de casa (12.1-7) - Simbolizando a ida do povo para o cativeiro.
· Ele comendo e bebendo com tremor (12.17-20) - Simbolizando a ansiedade e o desespero do povo no dia da desolação.
· A espada afiada e polida (21.1-17) - Simbolizando o juízo iminente de Iahweh sobre Jerusalém.
· A espada de Nabucodonosor (21.18-23) - Simbolizando a vitória de Babilônia.
· A fornalha (22.17-31) - Simbolizando o julgamento de Jerusalém por causa da corrupção dos sacerdotes.
· A morte da esposa (24.15-27) - Simbolizando a queda de Jerusalém.
· Dois pedaços de pau (37.15-23) - Simbolizando a reunificação de Israel e Judá


Além disso, ele nos brinda com muitas alegorias, que é simbolismo para ensinar uma verdade espiritual. Eis algumas delas:

· A madeira inútil da videira, símbolo da destruição de Jerusalém (15.1-8)
· A esposa infiel, símbolo da infidelidade de Jerusalém (16.1-63)
· As duas águias e a videira, símbolos da Babilônia e destruição de Jerusalém (17.1-21)
· O broto do cedro, símbolo da elevação e queda das nações por Iahweh (17.22-24)
· A leoa e seus filhotes, símbolo dos reis de Judá, que serão presos (19.2-9)
· A mãe como videira plantada, símbolo da destruição da realeza de Judá (19.10-14)
· O fogo no bosque, símbolo da destruição de Judá (20.46-49)
· As duas irmãs prostitutas, símbolo de Samaria e Jerusalém (23.1-49)
· A caldeira enferrujada, símbolo da imundícia de Jerusalém (24.1-14).

6 – As Visões de Ezequiel


Por perdermos ao longo dos séculos a simbologia usada na antiguidade por esses homens de Deus, muitas vezes não conseguimos compreender com exatidão o que eles queriam dizer. O que sabemos, é que, as visões de Ezequiel ressaltaram a soberania de Deus sobre o mundo e destacaram o conhecimento que o profeta tinha deste papel que o Senhor desempenhava. A escatologia presente nestas visões indicava para o povo que as promessas de Deus se cumpririam, pois os ossos secos tornariam à vida.




1 - Visão das Rodas – (Ez 1:4-28) Era para mostrar que Deus estava no controle absoluto do universo, pois Seus olhos estavam voltados em todas as direções. A característica motora de Seu trono simbolizava Sua presença em todos os lugares. Portanto, o povo cativo poderia ter certeza de que o Senhor estava com eles na Babilônia.

2 - Seres Viventes – ( Ez 1:4-28) Existem alguns significados para esta visão, duas achei relevantes:


A) Quatro Tribos

Judá, Rúben, Efraim e Dã – foram reconhecidas como líderes tribais (Nm 2: 1-34). Cada uma teve seu próprio estandarte ou bandeira que os identificava como cabeça das tribos, enquanto as outras tribos tiveram suas insígnias, uma bandeira menor.


 
 
B) Quatro Evangelhos

Essas quatro faces também apontam para cada um dos evangelhos:
· Rosto de Leão: Mateus – Rei: Começa com uma Genealogia, para mostrar que ele vem do Rei Davi. Ele é o Leão da Tribo de Judá.
· Rosto de Boi: Marcos – Servo: Não há genealogia em Marcos, para mostrar que servo não tem genealogia. Jesus Cristo é aquele que suporta cargas e fardos, e que veio a Terra para levar sobre Si toda a carga de pecados, vergonhas e doenças humanas.
· Rosto de Homem: Lucas – Filho do homem: Por isso a sua genealogia vai até Adão.
· Rosto de Águia: João – Filho de Deus que desceu do céu: Jesus o Verbo eterno que desceu do céu.

3 – Vale dos Ossos Secos – (Ez 37) Os ossos secos simbolizava toda a nação de Israel, que por se desviar de Deus, fora entregue aos Assírios e aos Babilônicos respectivamente. Mas Deus iria conduzir Seu povo (agora sendo como ossos secos) novamente à vida. E eles novamente estariam vivos (libertos) para andar nos caminhos de Deus. Os restauraria como nação forte e poderosa novamente.

4 – O Novo Templo – (Ez 40: 1-49) As interpretações da visão do templo basicamente aparecem sob duas categorias – a literal e a figurada. Damos abaixo um resumo das principais opiniões referentes à narrativa do templo.

1) Alguns defendem que é uma descrição do Templo de Salomão, preservada para que os exilados, ao retomar, pudessem reconstruir o seu santuário. Na realidade, as especificações para o Templo de Ezequiel eram diferentes e maiores do que as do Templo de Salomão.
2) Outros dizem que ela representa um ideal elevado, um padrão geral para guiar os exilados, que retomavam, na sua edificação. Toda a seção é considerada como uma constituição para a teocracia pós-exílica. Mas em parte nenhuma dos livros pós-exílicos do V.T. há uma referência ao Templo de Ezequiel, nem há alguma indicação dele na obra de Zorobabel e Josué, Ageu e Zacarias (Ed 3:8-13; 5:1, 2, 13-17; 1:2-4; 6:14; Ag 1:2, 7-15; 2:1-9; Zc. 6:9-15), ou Esdras (Ed 7:10, 15, 16, 20, 27 e Ne 8-9) que este fosse o tipo de templo que deviam edificar.





3) Alguns comentaristas judeus têm defendido que o Rei Messias, na sua vinda, completará o Templo e instituirá os detalhes do ritual.

4) Do mesmo modo há alguns cristãos que defendem que existirão um Templo literal, sacrifícios e um sacerdócio durante o Milênio, de acordo com as especificações apresentadas por Ezequiel.

5) Ainda outros defendem que o Templo de Ezequiel é uma figura representando os redimidos de todas as idades adorando Deus nos céus. Contudo, muitos dos detalhes terrenos da visão, como, por exemplo, a oferta pelo pecado nega a sugestão de que este seja um retrato da perfeita adoração nos céus.

6) O ponto do vista simbólico típico, ou, mais acertadamente, o alegórico, foi preferido pelos Pais da Igreja e pelos Reformadores. Eles descobriram no príncipe, nos sacerdotes, nas ofertas, nas medidas do templo, na corrente que brota do santuário, nas divisões tribais, etc., elementos descrevendo Cristo e as perfeições espirituais da Igreja através da dispensação do Evangelho. Esta opinião sofre da excentricidade do subjetivismo e rouba à passagem o significado para o tempo de Ezequiel.





7) Alguns veem nela simplesmente uma parábola profética. Esses capítulos, dizem, apresentam grandes verdades espirituais em linguagem e pensamentos padrões de Ezequiel, o sacerdote. São caracterizados pela mesma minuciosidade de detalhes observada em suas visões (cap. 1, 32), transmitindo assim o sentido da segurança divina.
A visão de Ezequiel da comunidade restaurada abrange um novo Templo, ao qual a glória do Senhor retorna (caps. 40-43), um novo culto de adoração, com um ministério e sistema sacrificial ideais (caps. 44-46) e uma nova terra santa redividida entre as tribos sobre novos princípios (caps. 47 ; 48).





7 – Conclusão

O livro de Ezequiel nos convida a participar de um novo e vivo encontro com o Deus de Abraão, Moisés e profetas. Temos que ser vencedores ou seremos vencidos. Ezequiel nos desafiou a: experimentar de uma visão transformadora do poder, conhecimento, presença eterna e santidade de Deus; deixar Deus nos dirigir; compreender a profundidade e compromisso com o mal que se aloja em cada coração humano; reconhecer que Deus dá aos seus servos a responsabilidade de advertir os ímpios de seu julgamento e, por último, ter uma experiência genuína de uma relação viva com Jesus Cristo, o qual disse que a nova aliança pode ser encontrada em Seu sangue.


terça-feira, 24 de outubro de 2017

A Reforma Protestante - 5º Pilar: Soli Deo Gloria

*** Somente a Deus seja a Glória ***

Texto Básico: Êxodo 20.1-6

1 - Introdução

Em oposição à teologia romana da Idade Média, uma das bandeiras dos reformadores era uma defesa dos dois primeiros mandamentos. Diante da veneração aos santos, às relíquias e aos padroeiros, eles defenderam corajosamente que somente Deus é digno de glória.
A teologia reformada admite que muitos irmãos do passado se destacam pela sua vida cristã, mas, ao mesmo tempo, insiste em afirmar que somente Deus deve ser adorado. Veremos, também, formas evangélicas de canonização e endeusamento de pessoas e aprenderemos a nos posicionar diante desse fenômeno pós-moderno com sabedoria e firmeza.

2 -  O Deus Único em Oposição às Imagens

Outro ponto fundamental da teologia reformada é conhecido pela expressão latina que dá título a esta lição: Soli Deo gloria (glória somente a Deus). Com essa bandeira, os reformados enfatizam o ensino bíblico de que somente Deus merece adoração, refletindo, assim, o ensinamento da singularidade de Deus.
De acordo com a Escritura, não há mais de um Deus. Há um só Deus vivo e verdadeiro. Na prática, essa doutrina bíblica não apenas proíbe a adoração de qualquer criatura, tais como anjos, santos e relíquias, mas também a adoração do Deus de Israel na forma de qualquer criatura.
Antes de passarmos ao estudo, é muito importante delimitarmos a questão que será abordada aqui. A questão não é se irmãos piedosos do passado devem ser respeitados e honrados por sua fé e até mesmo imitados em sua fidelidade ao Senhor. A Escritura não se opõe a isso (Lc 1.48; Mc 14.9). A questão é se esses irmãos piedosos do passado devem ser adorados.
Com relação à prática católica romana, é notório que a adoração aos santos é uma das partes principais de sua vida devocional. Os santos são honrados com templos, capelas, altares, missas, festas e dádivas que são oferecidas a eles, bem como com orações, juramentos e votos. De modo geral, eles são invocados como intercessores, protetores do mal e concessores de bênçãos. Vejamos o que a Escritura tem a nos dizer sobre cada uma dessas atividades atribuídas aos santos.

Intercessão - A Escritura afirma que temos um intercessor diante de Deus: Jesus Cristo (Rm 8.33-34). O autor da carta aos Hebreus diz que “por isso, [Cristo] também pode salvar totalmente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles” (Hb 7.25). A Escritura é clara ao afirmar que “há um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem”. Portanto, não há base bíblica
para a doutrina de que os santos intercedem por nós junto a Deus.

Proteção contra o mal - A Escritura tem um ensinamento sobre isso. O próprio Jesus nos ensinou a orar: “Não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal” (Mt 6.13). Quem pode nos livrar do mal, segundo a Escritura, é o próprio Deus. Foi ele que permitiu que Jó fosse tocado em sua prosperidade, em sua família e fosse afligido do alto da cabeça à sola dos pés (Jó 1.12; 2.6) e foi ele que impediu que os leões abrissem a boca contra Daniel (Dn 6.22). É Deus quem pode nos livrar do mal, segundo a sua vontade, e é ele quem pode permitir que o mal nos alcance, para sua glória e nosso benefício final e eterno.

Concessão de bênçãos - De acordo com a teologia católica romana, os santos são nossos mediadores diante de Deus e, assim, podem obter benefícios temporais e espirituais para nós não somente por suas orações, mas também por seus méritos. Por serem puros, merecem ter seus pedidos atendidos por Deus. A Escritura afirma que é Deus “quem a todos dá vida, respiração e tudo mais” (At 17.25). É Deus quem faz vir a chuva “sobre justos e injustos” (Mt 5.45). O salmo 104 é um longo louvor a Deus por ser o Criador e o Sustentador de tudo o que existe. Quem concede bênçãos é Deus, não outro.

Os ensinamentos da Escritura, associados ao fato de que não há sequer um preceito, uma promessa ou um só exemplo de adoração aos santos em toda a Escritura formam a base da doutrina reformada de que somente Deus deve ser adorado.
Alguns teólogos católicos romanos tentam se livrar do peso da doutrina reformada alegando haver uma distinção entre as palavras gregas latreia edouleia. Segundo eles, o termo latreia significa a adoração que deve ser dada somente a Deus. A veneração aos santos é descrita como douleia, por isso, segundo eles, a adoração, veneração e invocação de santos não pode ser considerada idolatria.
Sobre isso, precisa ser dito que a Escritura não reconhece a distinção católica romana entre latreia e douleia, mas reivindica adoração somente a Deus. No Novo Testamento, a palavra grega latreia só é usada como referência à adoração a Deus. No entanto, a palavra douleia também é usada nesse mesmo sentido (Mt 6.24 – servir; Rm 12.11 – servindo ao Senhor; 1Ts 1.9 – servirdes o Deus vivo). Portanto, essa distinção feita pelos teólogos católicos romanos não tem apoio na Escritura.
Em resumo, segundo a Bíblia, toda adoração ou invocação religiosa dirigida a qualquer ser que não a Deus é uma adoração idólatra (Rm 1.25).
3 - O Deus Único em Oposição às Relíquias e aos Padroeiros

Uma extensão da adoração aos santos é a adoração às suas relíquias. Relíquias são objetos pertencentes ou supostamente pertencentes a cristãos piedosos do passado que, no decorrer do tempo, foram canonizados. Entre essas relíquias encontramos fiapos de roupas, retalhos de mantos, pedaços de unhas e dentes, fios de cabelo, ossos e vários outros objetos e pedaços do corpo. Como em nenhum lugar a Escritura fundamenta este tipo de adoração, nem ordena que seja realizada, nem atribui alguma promessa a ela, nem dá exemplo que deva ser seguido, a teologia reformada considera esse tipo de adoração como uma superstição religiosa.
No governo do imperador Constantino, começou a ocorrer a exumação de cadáveres de cristãos piedosos para que fossem enterrados em lugares mais vistosos. Isso foi ordenado pelo próprio imperador. Ele queria que as solenidades das religiões pagãs fossem assimiladas pelo cristianismo para tornar a religião cristã mais aceitável aos pagãos. Quando viu os pagãos transferindo, com grande pompa e solenidade os cadáveres de reis e líderes religiosos que tinham sido sepultados em lugares obscuros para sepulcros tão esplêndidos que se tornaram verdadeiros monumentos, ele pensou que essa honra devia ser dada aos grandes líderes e mártires cristãos. Porém, quando os restos mortais desses irmãos começaram a ser exumados e transportados, os cristãos passaram a vê-los como protetores do país ou cidade para os quais os corpos eram levados. Foi daí que surgiu a idéia de “santos padroeiros”, que passaram a ser invocados e adorados.
A Escritura, além de condenar a invocação e a adoração de qualquer criatura em lugar de Deus, nada tem a dizer sobre jurisdições confiadas aos santos. Ela relata, porém, o sepultamento de crentes piedosos e a ação de Deus por meio desses irmãos. Por exemplo, Jacó e José pediram que seus corpos fossem levados do Egito para a terra prometida, mas não há registro de que seus corpos tenham sido adorados ou colocados no templo, nem carregados em procissões, nem colocados em altares. Seu pedido apenas refletia sua fé na promessa de Deus a respeito da terra prometida. Eles queriam que seus restos mortais fossem depositados na terra que Deus havia prometido dar aos descendentes de Abraão.
Há, no Antigo Testamento, o relato de que certo homem, ao ser sepultado, foi jogado às pressas sobre os ossos de Eliseu e, ao tocá-los, ressuscitou. Este acontecimento é eventualmente usado por aqueles que crêem no poder das relíquias, mas o fato é que nem antes nem depois do milagre os ossos de Eliseu foram adorados nem seu túmulo foi transformado em centro de peregrinação religiosa.
No Novo Testamento, há o relato de que a simples colocação de um enfermo sob a sombra de Pedro foi suficiente para que ele fosse curado (At 5.15-16). Não há, porém, um só indício na Escritura de que Pedro tenha aceitado adoração ou tenha assumido o papel de Mediador da nova aliança. Há um relato semelhante sobre Paulo (At 19.12). Este, porém, em preceito e exemplo, mostra claramente que a criatura não deve ser adorada em lugar do Criador. O preceito é encontrado em Romanos 1.25, e o exemplo é visto quando ele claramente rejeita a adoração que os habitantes de Listra queriam prestar a ele depois da cura de um coxo (At 14.8-18).
Há, ainda, outra forma de adoração proibida na Escritura. Além de proibir a adoração de qualquer ser além de Deus, a Escritura também proíbe a adoração de Deus por meio de qualquer representação (Dt 5.8-9).
Na Escritura, todas as imagens feitas para a adoração algum deus são chamadas de ídolos. Isso acontece, por exemplo, com o bezerro de ouro (At 7.41), com o ídolo de Mica (Jz 17.3-4) e com os ídolos de Jeroboão (1 Rs 12.28). Portanto, quando uma pessoa diz que, curvando-se a uma imagem ou dirigindo a ela orações, está, na verdade, curvando-se diante de Deus e dirigindo suas orações a ele, essa pessoa está relatando uma prática totalmente estranha à Escritura.
Há quem tente usar os querubins que ficavam sobre a arca da aliança e a serpente de bronze como fundamento para o uso de imagens. No entanto, há que se observar que nem o querubim nem a serpente de bronze foram adorados. Deus, de fato, disse que falaria a Moisés do meio dos querubins (Êx 25.22), mas em nenhum lugar ele ordena que Moisés os adore. Aliás, eles ficavam fora da vista do povo, sobre a arca, no Santo dos Santos. Quanto à serpente de bronze, ela foi completamente destruída pelo piedoso rei Ezequias justamente porque os judeus começaram a adorá-la (2 Rs 18.4).

4 -  A Água do Rio Jordão, o Sal Grosso e o Herói que Arrasta Multidões

Até aqui, a lição tratou da afirmação da doutrina reformada da glória de Deus em oposição à doutrina católica do tempo da Reforma. No entanto, a realidade de grande parte da comunidade evangélica de nossa época faz com que esta doutrina tenha especial relevância hoje.
No mundo evangélico, uma imensa multidão de pessoas tem sido atraída por pastores que agem como heróis religiosos, canalizando para si mesmos uma atenção que deveria ser direcionada a Jesus, o único Salvador e Cabeça da igreja. Nesses movimentos, o líder se apresenta como revestido de autoridade espiritual máxima, pronto para solucionar problemas, curar enfermos, expulsar legiões de demônios, darem ordens e receber recompensas em nome de Cristo.
Essa postura personalista deixa em segundo plano a pessoa de Cristo, que é quem verdadeiramente soluciona, abençoa cura, restaura, enfim, quem verdadeiramente age como Senhor da igreja e sumo sacerdote eterno. Uma coisa é o pastor ser fiel, ter um ministério abençoado e frutífero e levar a igreja a glorificar a Cristo, reconhecendo nele a fonte de todo o bem e de toda a vida. Outra coisa é o pastor apontar para si mesmo, confiando em sua eloqüência e em suas aptidões para arrastar multidões. A igreja é de Cristo e tudo o que se faz nela deve redundar em glórias a Cristo, a mais ninguém.
Outro problema visto nesses grupos evangélicos é o uso de “relíquias evangélicas”: copo de água em cima do rádio, toalhinha santa, sal grosso, água do rio Jordão, lascas da arca de Noé, pregos da cruz, manto de Elias, etc. Tudo isso são relíquias modernas que chamam para si uma atenção que só devia ser dada a Cristo. Quem cura e abençoa não é a água barrenta do rio Jordão ou a água cristalina de uma fonte borbulhante; não é o sal grosso nem o sal refinado; não é o manto de Elias nem de Pedro; quem cura e abençoa, conforme a sua vontade soberana e bem feitora é Jesus Cristo, o único Mediador da nova aliança, o único Salvador, o único Autor da vida.

5 -  A Glória de Deus como o Objetivo Máximo de Todas as Coisas

De acordo com o Catecismo Maior de Westminster, “o fim supremo e principal do homem é glorificar a Deus e gozá-lo para sempre”. Deus não divide com ninguém a sua glória (Is 42.8) e governa a história de modo que em tudo ele seja glorificado. Veja como ele fez isso na história de Israel e da igreja: Deus escolheu seu povo para sua glória (Ef 1.4-6; 12 e 14); nos criou para a sua glória (Is 43.6-7); chamou Israel para a sua glória (Is 49.3; Jr 13.11). Deus resgatou Israel do Egito para a sua glória (Sl 106.7-8); levantou Faraó para mostrar seu próprio poder e glorificar seu próprio nome (Rm 9.17); derrotou Faraó no Mar Vermelho para mostrar a sua glória (Êx 14.4,17-18). Deus poupou Israel no deserto para a glória do seu nome; (Ez 20.14); deu a Israel a vitória em Canaã para a glória do seu nome (2 Sm 7.23); não desamparou o seu povo para a glória do seu nome (1 Sm 12.20-22). Deus restaurou Israel do exílio para a glória do seu nome (Ez 36.22-23,32).
Também vemos isso na pessoa de Cristo. O Senhor Jesus buscou a glória de seu Pai em tudo o que fez (Jo 7.18); ensinou-nos a fazer boas obras para glorificarmos a Deus (Mt 5.16; 1 Pe 2.12); advertiu que não buscar a glória de Deus torna a fé impossível (Jo 5.44); disse que responderia às orações para que Deus fosse glorificado (Jo 14.13); suportou sofrimentos até o último momento para a glória de Deus (Jo 12. 27-28; Jo 17.1; 13.31-32). O Senhor ofereceu seu Filho para vindicar a glória da sua justiça (Rm 3.25-26); perdoou nossos pecados por amor de si (Is 43.25); Jesus recebe-nos em sua comunhão para a glória de Deus (Rm 15.7); o ministério do Espírito Santo é glorificar o Filho de Deus (Jo 16.14); Deus instrui-nos a fazer todas as coisas para a sua glória (1Co 10.31; 6.20); Deus instrui-nos a servir de maneira que ele seja glorificado (1 Pe 4.11); Jesus enche-nos com os frutos da justiça para a glória de Deus (Fp 1.9, 11). Todos estão sob julgamento por desonrarem a glória de Deus (Rm 1.22-23; 3.23); Jesus voltará para a glória de Deus (2 Ts 1.9-10); O desejo de Jesus é que na eternidade, o seu povo se alegre em sua companhia contemplando a sua glória (Jo 17.24). Mesmo na ira, o propósito de Deus é fazer conhecida a riqueza da sua glória (Rm 9.22-23); o plano de Deus é encher a terra com o conhecimento de sua glória (Hc 2.14). Todas as coisas que acontecem redundam na glória de Deus (Rm 11.36). Na Nova Jerusalém, a glória de Deus substitui o sol (Ap 21.23).

6 – Conclusão

A adoração só é devida a Deus. Devemos nos lembrar disso não apenas quando somos convidados a agir de modo errado e nos curvar diante de uma imagem e oferecer orações a ela, mas também quando somos tentados a adorar as modernas “relíquias evangélicas” e a ter pelos líderes religiosos uma consideração muito maior do que a que é devida. Somente Deus deve ser adorado.
7 - Aplicação Pessoal

Como se manifesta o moderno “culto evangélico às relíquias”? Que atitude devemos tomar quando temos esse comportamento diante de nós?

Leitura Diária


Domingo  –
Êx 20.1-17 – O Dez Mandamentos
Segunda  –
Is 42.1-9 – A minha glória, não a dou a outrem
Terça  –
Rm 11.33-36 – Dele, por ele e para ele
Quarta  –
Hb 7.23-25 – O nosso intercessor
Quinta –
At 17.16-31 – É de Deus que recebemos bênçãos
Sexta  –
1 Co 10.31 – Tudo para a glória de Deus
Sábado  –
Hc 2.12-14
– A glória de Deus

A Reforma Protestante - 4º Pilar : Solus Christus

*** Somente Cristo é o Salvador ***

Texto Básico: Atos 4.5-22


1 – Introdução


Ao longo da história cristã, é comum encontrarmos várias modalidades de “Cristo mais alguma coisa”. O ensino bíblico é muito claro: nossa salvação depende inteiramente da obra de Cristo realizada em nosso lugar. Ele foi nosso substituto, recebeu uma morte que era nossa para que, por ele, tivéssemos vida em seu nome. Mas a natureza humana não se sente muito confortável em ter de depender de alguém, não é verdade? É por esse desejo humano de autonomia que a história cristã vem registrando a criatividade humana em acrescentar alguma coisa (algo feito pelo ser humano para que ele tenha uma participação “razoável” em sua própria salvação) à pessoa e obra de Cristo. Na lição de hoje, veremos três dessas coisas: as penitências, o dízimo e as atividades eclesiásticas.
2 - Cristo Mais as Penitências
A doutrina romana das penitências foi uma das maneiras pelas quais a supremacia de Cristo na salvação era obscurecida. De acordo com essa doutrina, o batismo expia os pecados cometidos até o momento em que a pessoa é batizada. Para alcançar expiação pelos pecados cometidos após o batismo a pessoa precisa praticar atos de penitência. Deste modo, a penitência é um sacramento cujo objetivo é mitigar a culpa do pecador.
Segundo essa doutrina, há quatro graus de penitência. O primeiro é o “pranto” às portas do templo, no qual o pecador roga com lágrimas aos que entram que orem por ele. O segundo grau é “ouvir” a palavra divina na entrada da igreja, de onde a pessoa devia se retirar logo que as orações começavam a ser feitas. Durante as orações, o penitente não podia ficar presente. O terceiro grau era a “prostração” no fundo da igreja, onde o penitente ficava na companhia dos novos convertidos e era obrigado a sair com eles, antes da ministração dos sacramentos. O quarto grau era “estar junto”. Nessa fase, o penitente tinha permissão para ficar junto com os demais cristãos e não era mais obrigado a sair com os novos convertidos. Com o tempo, o penitente recebia permissão para participar dos sacramentos. No “estar junto” o penitente podia participar da oração e, mais tarde, também dos sacramentos.
Esse elaborado sistema penitencial era usado para manter a disciplina na igreja e para expiar, mesmo que parcialmente, os pecados cometidos depois do batismo. O problema é que, se os pecados são parcialmente expiados pelos atos penitenciais, então Cristo expia apenas uma parte dos pecados e, conseqüentemente, concede apenas uma parte da salvação, sendo a outra parte uma obra humana. Assim, a salvação seria resultado de um trabalho em conjunto realizado por Deus, em Cristo, e o ser humano, em seu zelo por se penitenciar e expiar, ainda que parcialmente, seus próprios pecados.
A teologia reformada insiste que a salvação não é uma obra realizada em parte por Jesus e em parte pelo pecador. A salvação e tudo o que está diretamente ligado a ela (como o perdão de pecados, por exemplo) é obra exclusiva de Deus.
Pedro é claro ao afirmar: “Este Jesus é pedra rejeitada por vós, os construtores, a qual se tornou a pedra angular. E não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos” (At 4.11-12).
Deus não tem colaboradores na salvação. A salvação é uma obra realizada exclusivamente por ele. Associar a ela qualquer esforço ou mérito humano é depreciar o sacrifício perfeito de Jesus Cristo, realizado de uma vez por todas em favor de todo aquele que crê. Contra a doutrina da colaboração humana na salvação, a teologia reformada grita a plenos pulmões: Cristo! Cristo! Só Cristo!

3 - Cristo Mais o Dízimo


Na lição 3, que trata da graça de Deus em oposição aos méritos humanos, já tratamos das indulgências. No entanto, a comercialização da fé e da salvação, infelizmente, não é um fenômeno que ficou restrito à Idade Média nem à prática romana. Isso acontece hoje, especialmente dentro de muitas igrejas evangélicas, nas quais o evangelho é oferecido por dinheiro e a salvação é trocada por dízimos e ofertas.
É triste e vergonhoso perceber como a prática romana das indulgências não apenas entrou, mas foi aperfeiçoada no meio evangélico. Os vendedores de indulgências da Idade Média trocavam a salvação ou a redução das penas no purgatório por dinheiro. Os modernos comerciantes da fé vendem não apenas a salvação (sobre a qual pouco se fala nos cultos voltados à prosperidade, mais interessados nas bênçãos terrenas), mas também relíquias “poderosas”, como fios de barba dos apóstolos, o manto de Elias (esse profeta devia ter muitos mantos, pois são vendidos em toda parte), pedaços da arca de Noé, da arca da aliança e até da cruz de Cristo.
Enganam-se quem pensa que esse é o ponto mais alto a que pode chegar a criatividade humana. Insatisfeitos com a venda da salvação e de relíquias religiosas, os mercadores da fé começaram a vender até mesmo orações e visitas a enfermos e idosos.
O que é mais alarmante em tudo isso é que muitos cristãos não percebem o quanto isso fere a supremacia da obra de Cristo. O poder cristão não vem de relíquias de qualquer espécie, mas de Cristo, que é o Senhor e cabeça da igreja. É somente quando permanecemos ligados à videira que obtemos a seiva que nos alimenta e revigora. Somente quando estamos ligados à videira podemos dar fruto. Esse é o ensino do próprio Jesus (Jo 15.5).
O mesmo acontece com a venda de orações. Jesus é quem intercede por nós (Rm 8.34). Ele é o único Mediador entre nós e Deus (1 Tm 2.5) e, como nosso sumo sacerdote eterno, vive sempre para interceder por nós (Hb 7.25). É ele mesmo quem ensina: “Pedi, e dar-se-vos-á; buscai e achareis; batei, e abrir-se-vos-á” (Mt 7.7). E, certamente, quando Paulo orientou os crentes gálatas a levar as cargas uns dos outros (Gl 6.2), esperava que isso fosse feito gratuitamente.
Contra a comercialização da fé, da salvação, das orações e das relíquias, a teologia reformada afirma: Cristo! Cristo! Só Cristo!

4 -  Cristo Mais a Participação nas Atividades Eclesiásticas


Há uma forma sutil de acrescentar um adereço à pessoa e obra de Cristo: a participação nas atividades eclesiásticas.
É correto e bom participar dos cultos. Isso deve ser encorajado em todas as igrejas: “Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns;” (Hb 10.25). Quando participamos do culto público, Deus fala conosco nos cânticos, na leitura da Palavra e na pregação. Somos edificados e consolados quando adoramos a Deus pela mediação de seu Filho por tudo o que ele é, fez e fará por nós.
Algumas igrejas têm outros tipos de reunião: reuniões de mocidade, de senhoras, de crianças, trabalhos sociais, etc. Participar de tudo isso é uma grande bênção, especialmente daquelas atividades em que podemos colocar em prática a capacitação espiritual que recebemos de Deus para o trabalho na sua obra. Além disso, somos cristãos e precisamos participar da vida da igreja. Somos um corpo cujo cabeça é Cristo e precisamos adorá-lo como indivíduos e como corpo, como comunidade de fé.
É claro que os cristãos devem ter prazer nos cultos, sabendo que esse é um momento especial de comunhão com Deus. O problema surge quando reduzimos a vida cristã à participação em uma enxurrada de atividades eclesiásticas. Vida cristã não é o mesmo que participação em atividades eclesiásticas diárias. Vida cristã é comunhão com Deus pela mediação de Cristo.
Além dessa concepção equivocada de vida cristã, a ênfase exagerada que muitos líderes costumam dar à participação descontrolada em atividades eclesiásticas acaba produzindo dois resultados colaterais muito negativos.
O primeiro é ocupar o único horário que muitos irmãos têm para descansar da labuta diária. Muitos irmãos trabalham o dia todo e chegam em casa exaustos. Reservar uma noite por semana para participar de um culto não faria mal. No entanto, reservar todas as noites para participar de atividades eclesiásticas é algo que poderá trazer, cedo ou tarde, resultados danosos à sua saúde. Lembre-se de que cuidar da saúde faz parte da mordomia cristã. Além disso, esse é justamente o único momento que muitos irmãos têm para manter a convivência familiar. Os membros da família saem cedo de casa, passam o dia todo fora, trabalhando ou estudando, e só se encontram à noite. O que acontecerá, em médio prazo, se eles forem privados desse convívio familiar?
O segundo é ainda pior que o primeiro, pois envolve o ensino bíblico da suficiência de Cristo para a salvação. Devido à grande ênfase dada à participação em atividades eclesiásticas, muitos cristãos assimilam a idéia de que estar presente ao maior número possível de atividades é algo que está diretamente associado à salvação. Isso está errado. Ninguém é salvo por participar de atividades eclesiásticas, mas por ter Cristo como seu Salvador pessoal.
A essa ênfase exagerada na necessidade de participação em atividades eclesiásticas, a teologia reformada afirma: Cristo! Cristo! Só Cristo!

5 - Conclusão


Cristo mais isso, Cristo mais aquilo. Os diversos “apêndices” que o ser humano acrescenta a Cristo não mudam a realidade: somos inteiramente dependentes de Jesus para nossa salvação. Nada há que possamos fazer para obtê-la e só a recebemos porque Cristo fez por nós tudo o que era necessário. Até mesmo a fé com que nos apropriamos dessa salvação é fruto da sua graça. Somos inteiramente dependentes dele. Para salientar em nosso coração essa dependência, a teologia reformada sempre afirmou, com muito vigor: Só Cristo!

6 - Aplicação


Em que você tem colocado o seu coração? Em Cristo ou em algum dos “apêndices” modernos? Examine agora a sua fé e veja em que você tem crido para sua salvação. Se for em algum “apêndice” ou mesmo em “Cristo mais alguma coisa”, livre-se disso e creia somente em Jesus Cristo para sua salvação.

Leitura Diária

Domingo – Rm 8.31-39 – Cristo intercede por nós
Segunda – 1 Tm 2.1-7 – O único Mediador
Terça – Hb 7.20-28 – Cristo, sacerdote perfeito
Quarta – Mt 7.7-12 – Cristo, o Mestre
Quinta – Gl 6.1-5 – Levando as cargas
Sexta – Jo 15.1-27 – A videira e os ramos
Sábado – Cl 1.13-23 – A preeminência de Cristo

quarta-feira, 11 de outubro de 2017

A Reforma Protestante - 3º Pilar: Sola Fide

*** Somente a Fé Leva a Salvação ***

“Vou subir a minha torre de vigia e vou esperar com atenção o que Deus vai dizer e como vai responder à minha queixa. E o Senhor Deus disse: “Escreva em tábuas a visão que você vai ter, escreva com clareza o que vou lhe mostrar, para que possa ser lido com facilidade. Ainda não chegou o tempo certo para que a visão se cumpra; porém ela se cumprirá sem falta. O tempo certo vai chegar logo;
portanto, espere, ainda que pareça demorar, pois a visão virá no momento exato. A mensagem é esta:
“Os maus não terão segurança, mas as pessoas corretas viverão por serem fiéis a Deus.”
(Habacuque 2:1-4)


3 – Sola Fide (Somente a Fé leva a Salvação)

1 – Introdução

Sola fide é uma das bandeiras defendidas pela teologia reformada desde seu nascedouro. Todos os reformadores se levantaram vigorosamente contra a doutrina da salvação pelas obras, ou pelos méritos, ou da colaboração com Deus na salvação. Todos eles, desde o início de seu ministério reformado, afirmaram que a fé é o único instrumento que Deus nos dá para nos apossarmos da salvação que ele concede graciosamente. Mas essa não foi a única frente na qual os reformadores tiveram que defender a doutrina da fé. Eles também tiveram que sustentá-la em oposição ao formalismo religioso e à secularização da fé.

1 -  Pela Fé, Não Pelas Obras

Muitas doutrinas sustentadas pela igreja romana estavam em aberto desacordo com o ensino da Escritura e houve muita controvérsia sobre muitos temas importantíssimos para a teologia cristã. No entanto, o estopim da Reforma está diretamente relacionado à forma como nos apropriamos da salvação. Na lição passada, vimos uma das formas pelas quais a pessoa podia se apropriar da salvação, segundo a crença romana: pelas indulgências. Também vimos que essa crença não se harmoniza com o ensino bíblico sobre a salvação, motivo pelo qual os reformadores fizeram questão de sustentar: sola gratia. A salvação é somente pela graça.
Havia, porém, uma forte doutrina romana que afirmava que a salvação era obtida por merecimento. Na medida em que a pessoa ia acumulando mérito diante de Deus, sua salvação ia ficando mais próxima. Mesmo que a pessoa não tivesse mérito suficiente para obter a salvação, esse mérito seria levado em conta para abreviar sua passagem pelo purgatório. O modo como o merecimento aumentava era pela prática de boas obras. Entre essas obras estavam as ações de caridade e a piedade religiosa.
·         As Ações de Caridade
Não há dúvida de que a ação em favor do necessitado é uma parte importante da religião cristã (Tg 1.27; 1 Jo 3.17). A teologia reformada não negligencia a importância do socorro ao necessitado e entende que não prestar esse socorro seria negligenciar o claro ensino da Escritura. No entanto, ela rejeita a associação desse dever cristão com a aquisição da salvação.
·         A Piedade Religiosa
Outra forma de boa obra é a piedade religiosa: freqüência às atividades da igreja, prática de orações diárias, devoção aos santos, ajuda ao sacerdote e envolvimento com o calendário eclesiástico, etc. A intensidade e a freqüência com que uma pessoa expressa sua religião era vista como um meio de se obter a salvação. A teologia reformada defende o compromisso do cristão com a comunidade cristã da qual faz parte e ensina a importância do cumprimento dos deveres cristãos. No entanto, entende que atribuir valor salvifico a isso é ir longe demais.
·         Salvos pela graça Mediante a Fé
Contra a doutrina da salvação pelo mérito, a teologia reformada afirma que somos salvos pela graça mediante a fé. Nenhum de nós tem méritos para barganhar com Deus. Somos todos pecadores e, por isso, tudo o que merecemos é a morte, que é o salário devido ao nosso pecado (Rm 6.23). É uma grande bênção o fato de que Deus “não nos trata segundo os nossos pecados, nem nos retribui consoante as nossas iniqüidades” (Sl 103.10).
Mas se não somos salvos pelas indulgências (como vimos na lição anterior), nem pela prática da caridade, nem pela piedade religiosa, nem por qualquer mérito que porventura pudermos imaginar ter, como nos apropriamos da salvação oferecida por Deus? Pela fé (Ef 2.8; Rm 1.17).
É pela fé que nos apropriamos do sacrifício que Jesus realizou na cruz em nosso lugar. A salvação é concedida graciosamente a todo aquele que crê (Jo 3.16).Quando entendemos que não temos mérito nenhum diante de Deus, que tudo o que fazemos sempre será manchado pelo pecado e que somos incapazes, por nós mesmos, de obter nossa salvação, nos refugiamos em Deus e encontramos abrigo seguro. O Catecismo Menor de Westminster (1647) na questão 86, assim define: “Fé em Jesus Cristo é uma graça salvadora, pela qual o recebemos e confiamos só nele para a salvação, como ele nos é oferecido no Evangelho”.

3 -  Muito Mais do que o Formalismo

Outra controvérsia a respeito da fé se refere à própria natureza da fé. É comum as pessoas imaginarem que fé e formalismo religioso são a mesma coisa. Esse erro foi cometido na Idade Média, quando as pessoas viam um homem freqüente aos trabalhos da igreja e zeloso no cumprimento de seus deveres religiosos e imaginavam: “Aí está um homem de fé”. No entanto, por mais importante que seja o zelo religioso, a fé é muito mais do que isso. Não devemos desprezar o valor da participação nos cultos e no cumprimento dos deveres religiosos, mas viver pela fé é muito mais do que a prática de atitudes religiosas. Viver pela fé é viver em obediência a palavra do Senhor, é ter comunhão com Deus, é zelar pela vida cristã, é ter motivos e objetivos nobres aos olhos do Senhor.
O que é mais triste nessa história é que esse erro não foi cometido somente na Idade Média. Ele é cometido hoje, inclusive entre os protestantes. Viver pela fé é muito mais do que vestir uma roupa bonita para participar de um culto, muito mais do que se esforçar para estar presente em inúmeras atividades eclesiásticas, muito mais do que levantar a mão e gritar aleluia. Viver pela fé é refletir a luz de Cristo neste mundo mal e confuso em que vivemos, é dar um testemunho fiel de Jesus Cristo, é demonstrar ao mundo, externamente, a mudança que o Espírito Santo realizou dentro de você e a diferença que Cristo faz na sua vida.
4 - A Fé Secularizada

Outro problema com o qual nos deparamos atualmente é o da secularização da fé. Esse é o nome que se dá à fé que é de tal modo influenciado pelos valores e posturas deste mundo caído que acaba ficando irreconhecível. O fenômeno da secularização da fé se apresenta em duas formas distintas: o formalismo religioso e o ateísmo cristão.

·         O Formalismo Religioso
Nesta forma de secularização, os aspectos externos da prática religiosa são preservados, mas seu conteúdo espiritual é esvaziado. A pessoa continua freqüentando os trabalhos da igreja, mantendo suas amizades evangélicas e todo um aspecto de piedade, mas seu coração está vazio e longe de Deus.
A Escritura menciona vários casos desse tipo, mas há dois que são emblemáticos. O primeiro, que já fizemos breve menção, é quando Deus condena o formalismo religioso vazio dos judeus no tempo do profeta Isaías: “De que me serve a mim a multidão de vossos sacrifícios? – diz o Senhor. Estou farto de holocaustos de carneiros e da gordura de animais cevados e não me agrado do sangue de novilhos, nem de cordeiros, nem de bodes. Quando vindes para comparecer perante mim, quem vos requereu o só pisardes os maus átrios?” (Is 1.11-12). O povo mantinha sua prática religiosa, mas todo o seu conteúdo espiritual havia se perdido. Suas ofertas tinham se tornado vão, suas orações não eram ouvidas pelo Senhor e seu culto causava desprazer em Deus.
O segundo é quando o Cristo glorificado, na visão do Apocalipse, dita a carta à igreja de Éfeso: “Tenho, porém, contra ti que abandonaste o teu primeiro amor”. O vigor espiritual dos crentes de Éfeso não era mais o mesmo. Essa igreja tinha sido muito privilegiada: Paulo visitou essa cidade (At 18.19-21) em sua segunda viagem missionária. Ele deixou ali Priscila e Áquila para que cuidassem da igreja (At 18.19). Apolo também esteve ali (At 18.25). Em sua terceira viagem missionária, Paulo permaneceu três anos em Éfeso (At 20.31) e se tornou muito amigo dos presbíteros daquela igreja. Ao retornar para Jerusalém, sabendo que não mais os veria, despediu-se deles com um discurso comovente (At 20.17-38). Mais tarde, já preso em Roma, escreveu sua carta aos Efésios. Por orientação do próprio Paulo, Timóteo se instalou em Éfeso para cuidar da igreja (1 Tm 1.3) e, mais tarde, por volta do ano 66 d.C., o próprio João esteve em Éfeso e pastoreou aquela igreja.
A igreja de Éfeso foi muito abençoada. Ela foi pastoreada por nada menos que dois apóstolos e quatro evangelistas de grande influência. Que grande privilégio. No entanto, quando João, preso na ilha de Patmos, escreveu a carta à igreja de Éfeso (Ap 2.1-7), pelo menos 30 anos já tinham se passado desde a chegada de Paulo ali. Os primeiros convertidos já tinham uma boa jornada cristã e uma nova geração de crentes havia surgido. Os primeiros cristãos de Éfeso tinham sido edificados na fé e tinham cumprido seu papel de candeeiros do mundo, apresentando seu Senhor a uma nova geração, mas essa nova geração não tinha o mesmo vigor espiritual da primeira. A fé estava em perigo. Porém, tanto para os judeus do tempo de Isaías quanto para os crentes de Éfeso havia uma esperança: arrependimento e fé.

·         O Ateísmo Cristão
A segunda forma pela qual o fenômeno da secularização da fé pode ser percebido é por meio do que podemos chamar de ateísmo cristão. Se no formalismo os aspectos externos da fé podiam ser vistos, no ateísmo cristão nem mesmo esses aspectos externos podem ser vistos com facilidade. Não há mais frequência regular aos cultos, apenas visitas esporádicas totalmente desprovidas de compromisso com a causa do evangelho (ou nem isso); o comportamento social em nada difere do comportamento de um não regenerado e a Bíblia se transformou em amuleto cuidadosamente guardado no fundo de uma gaveta, de onde só sai em momentos de crise, para ser agarrada e beijada de modo supersticioso, geralmente com lágrimas.
Para as duas situações, a teologia reformada apresenta mais uma bandeira dos reformadores: sola fide. Só a fé. Devemos, nos lembrar, contudo, que não há mérito humano na fé. A fé é graça que se materializa em obediência a Deus.

5 - Conclusão
Secularização da fé, formalismo religioso, salvação pelas obras. Nada disso pertence à natureza da fé, da salvação e da vida cristã. A teologia reformada, com sua ênfase na doutrina da fé, convida a igreja de Cristo a olhar para além das circunstâncias religiosas em que vive e manter com Cristo, pela fé, uma doce e estreita comunhão que produz vida eterna e abundante.
6 - Aplicação
Você consegue explicar com suas palavras o que é a secularização da fé? Consegue identificar pelo menos cinco caminhos pelos quais essa secularização penetra na igreja e abate o vigor espiritual dos cristãos?


Leitura Diária

Domingo – Tg 1.19-27 – A fé em ação
Segunda – Rm 6.23 – O que realmente merecemos
Terça– Sl 103.1-22 – Não segundo os nossos pecados
Quarta – Ef 2.1-10 – Pela graça mediante a fé
Quinta – Rm 1.16-17 – A salvação do que crê
Sexta – Is 1.10-20 – A fé secularizada
Sábado – Ap 2.1-7 – A igreja secularizada

Pesquisar este blog